quarta-feira, 30 de abril de 2008

PEDRA FILOSOFAL


Opacidade é comprimento de onda, é amplitude de energia. Melhores opacos são os metais, que em suas bandas largas absorvem quaisquer cores do espectro. E as reemitem.

ANIS é metal de transição: comunica a veleidade e a magnitude. É amálgama joalheira e solução nano-coloidal. É ouro que veste e que cura. É prática e excessiva, a termo. Sempre.

Nela, o que bate reverbera, e mesmo as mais breves notas trépidas são executadas com diligência, com quantidade de tempo, com densidade de matéria.

O opaco que não anima é armadilha e só alguém que possui a ausência de cor em si pode desenxergar o arco-íris que ANIS esconde, mas que em verdade lhe é Sina.

domingo, 27 de abril de 2008

ATAVISMO


A memória de Quim é um lago mítico.
Profunda como a mecânica do tempo.
Densa ante o magnetismo dos sentidos.
Intumescida pela inauguração das vezes.

A memória de Quim executa a incontável repetição das vezes.

Nesse espelho d'água saturado de claridades transparências lucidezes as narrativas são proclamadas absorvidas entrelaçadas e ela que é arauto-do-rei grão-vizir porta-voz aquiesce aos desígnios que fizeram dela cavalo.

O Passado existe persiste resiste em Quim.


sábado, 26 de abril de 2008

PETRI DISH

Fora de esquadro. Sina sempre entendera ser esta a sua posição. Superlativa, destacada, desdobra-se no alinhave dos hermetismos que fazem as bobagens mais graciosas, as piadas mais irônicas, os conhecimentos mais maduros, as amizades mais cúmplices... E dessa feita vai exercitando a sua sinonímia em fados, destinos, manifestações de uma idéia de ciclo, de continuidade e ao mesmo tempo de impermanência, que armazena e engendra as experiências, os dados, as informações, as características...

Assim, foi organicamente que Sina assumiu o Futuro e a responsabilidade por alimentá-lo.

Já havia nela toda a ânsia que orna os extemporâneos.



(http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

COMPOSTELA


Mrs. Breeze aceitou o Presente. Desembrulhado de fitas e gomas, acolheu-o na alma, no espírito, na razão - que, em Gavril, são realmente todos os mesmos.
Onde para todas as pessoas um novo dia é sempre fresco, para Gavril ele é sempre cru. Responsável pelo cozimento dos dias, pelos seus azeites e têmperas, Mrs. Breeze vai macerando as exegeses iminentes e acamando as searas cotidianamente trabalhadas. Construções são reveladas ou desvalidas.
Há vaticínios na vida. Gavril Breeze é trâmite. E avia o que é mister segundo outorga do oráculo de Quinta Sagita.

domingo, 20 de abril de 2008

SINTONIA FINA

A lua amanheceu-me em cólicas exigindo suavemente que meu sangue se vertesse sobre a terra. Sacrifícios de sangue são realmente valiosos e tingem os momentos para que deles não esqueçamos. Eu, que não esqueço, atribuída de profecias e afogada em memórias, sei que este é um precioso segredo: onde o sangue dos homens é morte o sangue das mulheres é vida. E quando sangramos reiteramos a vida, a mágica, e a fina sintonia entre elas.

sábado, 19 de abril de 2008

Gavril e o medo

A dor vem não sei de onde. Quero dizer, imagino até, mas não entendo, pois parece sempre fabricada dentro de mim. Cresce sem motivo, mesmo quando tudo está bem, aparentemente. Talvez até mais quando tudo está bem, como se, por uma questão de equilíbrio cósmico, algo deve estar errado.

É o medo. Esse nó que aperta bem no meio do peito, entre os seios, diante de simples possibilidades, mas não diante de ameaça de perigo real (que foram raras até agora). Medo, principalmente de que descubram que debaixo da minha aparência plácida e altiva, tem algo de sombrio, de pouco nobre, de pequeno.

Ao mesmo tempo, me dói que as coisas não saem de dentro de mim, ficam presas, acumulando, colidindo entre si, confundindo tudo. No final, o que é figura vira fundo. O entulho faz com que o que realmente importa fique mascardo por trás de tudo o que não foi dito.

Me dói que a minha dor seja frívola diante do sofrimento genuíno do mundo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

LIMÍTROFE

Dói no esterno, bem na curvatura do osso. Dói uma dor de propagação concêntrica consistente, palpável, material, quase-quase mensurável. Osso côncavo, liso e chato, também é ímpar. Como a dor que é minha. Como acredito seja a dor de cada um.
Às vezes observo a área no espelho, procurando por algum hematoma que sugira impacto e, portanto, justifique a dor. Faço isso numa insistência de querer acreditar que é mentira, eu não dôo tanto assim.
Tenho vergonha e pudores com as minhas dores. Formatada no sacrifício cristão, abençoada com um otimismo infantil, me incomoda o lamento. O meu lamento. Admito e admiro o alheio. Emociona-me aquele que pranteia seus males, que apieda-se de si, que tem no amor-próprio esta nesga egoísta. Veja bem: sou uma incorrigível egocêntrica. Ou melhor, uma corrigível egocêntrica. Gasto tempo emendando minhas imperfeições pra que não derrubem os outros. Engulo sapos amiúde por um bom manejar da vida. Não gosto de me queixar.
Mas as queixas existem. Afogadas, corrompidas, apartadas. Mas existem.
Porque dói querer uma coisa e não tê-la.
Dói quando essa a coisa que você mais quer na vida.
Dói ser alguém transbordada de amor e não ter amor por que se debruçar.
Dói não ser a pessoa mais importante do mundo. Pra uma pessoa.
Dói não ser a pessoa mais importante do mundo de ninguém.
Dói ser a segunda opção, sempre, sempre, SEMPRE, seja para um homem com quem trepar, seja para todos os meus amigos, seja para toda a minha família.
De novo, veja bem: eu sou muito, muito amada. Nunca poderei dizer que, por exemplo, minha família ou meus amigos não me amam. Seria mentira. Mas a verdade cruel, subliminar, inconteste, e que pra nenhuma dessas pessoas eu sou a mais especial.
Ser o mais especial é o que todo mundo quer.
Ser o mais especial é o que todo mundo deveria ser.
Ser o mais especial devia ser direito adquirido com o nascimento.
Dói nunca ser o mais especial. E talvez doa mais ainda não conseguir desistir disso.
Agora, me diz: como é que a gente reclama de uma dor dessas e não fica parecendo um narcisista, fútil, individualista?
Vê a suave e fina ironia? Dói, e ainda assim, minha dor parece bobagem.
Ó oráculo perverso, exigente, mordaz, eu não tenho o que dizer, eu me sinto injusta de doer assim desse jeito. Mas, a debalde minhas vontades, de agora até o final da lua quarternária, eu, Quim, do reduto dos mistérios ocultos e revelados, de Quinta Sagita, me coloco em estado de LÁSTIMA, pra que doa o que doer.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

LUA QUATERNÁRIA

Gavril e Sina,

beira a chegada da quarta lua após o equinócio. Como vocês sabem, nessa hora, temos afazeres que dependem da fase em que se encontra a lua quaternária e é meu dever reportar nossas demandas como faculta o oráculo. São elas:
- Estando a lua cheia, plena, em estação de enquisto e minoração, a concórdia de tais qualidades exige sentimentos atrozes, superlativos, atávicos, particulares, e portanto, sem fuga ou recalcitrância, é-nos requerido A LÁSTIMA.
- A dor precisa ser descrita, o luto precisa ser afagado, a queixa precisa ser expressada. E não importa se preferimos o silêncio com o qual a existência das Guardiãs nos alentou, pois agora é hora de exposição, de risco, de evidência. É hora de apresentarmos nossas fraquezas.
- Nosso prazo é domingo, 20/04 às 7h26, quando a lua quaternária inicia seu ciclo. A partir de então, ao longo dele, carpiremos um a um todos os amargores.

Sob influência, tenho dito.

Quim.


quarta-feira, 16 de abril de 2008

ALÍNEAS








Em Quinta Sagita o ano começa com o Solstício de Verão. Nesta data, sempre, Sina, Quim e Gavril lá se encontram e preparam filtros, feitiços, amuletos, compotas, conversas, panacéias – além de lindíssimos vestidos.

(Apesar de ser este o início do verão, curiosamente, nos preceitos da tradição chinesa, por estar-se no final da primavera, ou seja, no final de uma estação, a natureza climática reproduz uma amostragem de todas as estações e essa mágica é conhecida como Final de Verão. Você vê, há um movimento sazonal que desemboca num tipo de veraneio, e no advento do Solstício, acontece a destreza do final se tornar o próprio início.)

Entretanto, tão logo termine o dia mais longo do ano, rigorosamente às 23h59, Mrs. Breeze deixa Quinta Sagita. Quim permance.

No Equinócio de Outono acontece o primeiro ciclo de visitas. À 0h00 desse dia abre-se o portal e Gavril à casa torna. Quim a recebe com incensos e lava-pés, pois o outono é exigente, elaborado, equilibrado, e portanto é tempo de cozer, macerar, curtir, defumar, armazenar os ingredientes em suas melhores condições para quando voltar o tempo de neles trabalhar. Às 23h59 impreterivelmente o portal é reaberto e Mrs. Breeze se vai. Os horários do portal são austeros, e são constantes.

Quim permanece.

Quando chega o Solstício de Inverno e é hora do portal, Quim recepciona Gavril dessa vez com sopas e cobertores, pois em Quinta Sagita o inverno é intenso e neva às noites em segredo. É preciso esperar acordada pela manhã, quando a neve degela orvalho, que comporá cada poção produzida, e que é armazenado num poço distante, rente ao chão, adornado e guardado por vitórias-régias.

Gavril parte. Quim fica.

O Equinócio de Primavera é a última grande festa do ano. Um grande exercício de ócio. O tempo é próprio para a troca, para o intercâmbio, para o debate, e portanto, só há lugar pros licores, pras varandas, pros jardins, onde comparam as belezas, as experiências adquiridas e ensinam umas às outras tudo que aprenderam. Depois se despendem com novos sonhos conquistados.

Até que finalmente chega o período mais mundanamente esperado pelas Guardiãs do Oráculo: seus aniversários. Seguindo o calendário, à 0h00 do dia 24/11, Gavril chega para festejar seu dia e para quatro semanas de merecidas férias. Irá deleitar-se entre seus pares e também parabenizar Sina em 03/12 e aproveita a empolgante virada para 04/12 e então comemorar a vida de Quim. Neste dia à hora régia, acontece uma relevante mudança – Quim afasta-se de Quinta Sagita e Gavril toma o seu lugar. Este é o único momento em que os papéis se invertem. E continuarão assim por mais três semanas. Até que o Solstício de Verão clame, até que oráculo ordene, e o novo ano restabeleça os ordinais.

Sina? ANIS? Presenteada com a dádiva de ser nômade e ao mesmo tempo zeladora do portal, apesar dos compromissos oraculares ela vagueia entre os mundos, entre as dimensões, entre os espaços, e entre si mesma e o universo. Sina-ANIS sempre está. Mesmo que não saibamos onde.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Oh-Racklo, My-Racklo!

Dizei.

ORDINÁRIAS

Nós originárias conjugamos inúmeras qualidades, transbordadas de variantes, extrapoladas de outrens. Aceitamos a dádiva pítia e nos alimentamos dela, mesmo na exaustão. Fazemos muito, fazemos sempre, fazemos mais. Entretanto, temos defeitos tais, e tantos, que mesmo em face do maior encanto (e em qualquer planejamento que façamos) guardamos um tempo para balancear os adjetivos, de modo que os defeitos nunca sobrepujem as qualidades.
Esta é a conta.
E isto é tudo que podemos fazer a este respeito.
Destarte, seguimos ao mesmo tempo generosas e mesquinhas, patinando as dialéticas de cabo a rabo.

Mrs. Breeze teme. É das suas maiores fragilidades. E por característica intrínseca, de frágil, teme que esta seja fraqueza. Assim, pretende-se austera na maior parte do tempo, omitindo suas frivolidades como simulacros de vergonha.

Sina odeia obrigações. Possui alma errática e exigências imaturas condizentes com um espírito jovem e fresco. É ávida e entediada ao mesmo tempo. Às vezes, sente enorme necessidade de sair de Quinta Sagita e ser obrigada a disfarçar-se, esconder-se, permear-se, mesmo que aí esteja um lapso de masoquismo. Afinal, Sina quer ser amada mais que tudo, mais que todos, incondicionalmente. Mas, quando de seus rompantes extra-territoriais, amarga anonimatos frente às próprias façanhas e consome um pervertido prazer de ser a responsável por tão breve flagelo. Para acostumar-se, no início do processo assume sua variante tomando cálices de anis, que detesta.

Quim é fantasiosa, prestidigitadora e ilusionista. Escapa de ser mitônoma apenas por opção racional, por um desejo de controle e poder, mas sente o delírio cutucar-lhe as sinapses numa memória ancestralmente afetiva. Controla a soberba, a arrogância, a empáfia por imperativo do oráculo, mas quando acredita-se esquecida, murmura carícias de amor-próprio.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

ORIGINÁRIAS

Não há nada no sítio, por enquanto. Ou, melhor, assim o parece. Porque o oráculo, seu umbigo, lá está onde sempre esteve. Fizemos assim: concordamos em guardá-lo, provê-lo, tratá-lo, e foi-nos requerido silêncio. Silêncio... Nunca soubemos se daríamos conta, e vez e outra, quando de nossos encontros, ainda nos maravilhamos com a parcial-mudez adquirida. Maravilhamo-nos de deboches, idiossincrasias, e num exercício supremo de equilíbrio da vida enquanto veículo, palramos como gralhas ou papagaios ensinados. Só então. Depois, nos desdobramentos dos nossos comprometimentos, Gavril Breeze parte, Quim fica solitária e Anis torna-se Sina ou vice-versa.

Mrs. Breeze - trabalha como diplomata ao redor do mundo e só visita Quinta Sagita em efemérides, quando seu poder é requerido. Fora de Quinta Sagita é muda todo o tempo. Como o oráculo pede não só o que mais queremos mas também o que nos falta, o poder de Gavril está no seu texto, no que escreve, com que talento, com que precisão, com que clareza. Assim, optou por nunca mais falar quando estiver no "mundo real", apenas escrever. Quando precisa fazer discursos para a ONU, Unicef e outras instituições, usa um software desenvolvido por ANIS, onde o que Mrs. Breeze escreve e reproduzido em sons, materializando os discursos.

ANIS - Sina - passa metade do tempo em Quinta Sagita com Quim e metade do tempo no "mundo real" com Mrs. Breeze. Quando está com Gavril é ANIS, mulher bonita, expansiva, diletante, que é reconhecida apenas to be friends with Gavril. Ninguém sabe de seus talentos. Quanto está com Quim em Quinta Sagita é Sina, e aproveita o tempo para suas façanhas, para novas descobertas, para desenvolver seus amuletos e suas plantações de ervas mágicas. Numa união de talentos, seu filtros (amuleto + erva) são poderosos e ação rápida e efetiva.

Quim - mora em Quinta Sagita, onde passa metade do tempo sozinha e a outra metade acompanhada por Sina. É a guardiã honorária do oráculos, sendo ajudada por Sina e Mrs. Breeze que, em contato mais constante com o "mundo real" espalham ou recolhem magias, feitiços, medicinas, conforme ordem do oráculo. Por permanecer todo o tempo no local, é tomada de premonições e vaticínios, mas em geral é desacreditada, pois todos a acham louca, insana, avariada. Opinião da qual Quim, soberba, não compartilha. Só lamenta que tantas tragédias não possam ser evitadas.