sexta-feira, 18 de abril de 2008

LIMÍTROFE

Dói no esterno, bem na curvatura do osso. Dói uma dor de propagação concêntrica consistente, palpável, material, quase-quase mensurável. Osso côncavo, liso e chato, também é ímpar. Como a dor que é minha. Como acredito seja a dor de cada um.
Às vezes observo a área no espelho, procurando por algum hematoma que sugira impacto e, portanto, justifique a dor. Faço isso numa insistência de querer acreditar que é mentira, eu não dôo tanto assim.
Tenho vergonha e pudores com as minhas dores. Formatada no sacrifício cristão, abençoada com um otimismo infantil, me incomoda o lamento. O meu lamento. Admito e admiro o alheio. Emociona-me aquele que pranteia seus males, que apieda-se de si, que tem no amor-próprio esta nesga egoísta. Veja bem: sou uma incorrigível egocêntrica. Ou melhor, uma corrigível egocêntrica. Gasto tempo emendando minhas imperfeições pra que não derrubem os outros. Engulo sapos amiúde por um bom manejar da vida. Não gosto de me queixar.
Mas as queixas existem. Afogadas, corrompidas, apartadas. Mas existem.
Porque dói querer uma coisa e não tê-la.
Dói quando essa a coisa que você mais quer na vida.
Dói ser alguém transbordada de amor e não ter amor por que se debruçar.
Dói não ser a pessoa mais importante do mundo. Pra uma pessoa.
Dói não ser a pessoa mais importante do mundo de ninguém.
Dói ser a segunda opção, sempre, sempre, SEMPRE, seja para um homem com quem trepar, seja para todos os meus amigos, seja para toda a minha família.
De novo, veja bem: eu sou muito, muito amada. Nunca poderei dizer que, por exemplo, minha família ou meus amigos não me amam. Seria mentira. Mas a verdade cruel, subliminar, inconteste, e que pra nenhuma dessas pessoas eu sou a mais especial.
Ser o mais especial é o que todo mundo quer.
Ser o mais especial é o que todo mundo deveria ser.
Ser o mais especial devia ser direito adquirido com o nascimento.
Dói nunca ser o mais especial. E talvez doa mais ainda não conseguir desistir disso.
Agora, me diz: como é que a gente reclama de uma dor dessas e não fica parecendo um narcisista, fútil, individualista?
Vê a suave e fina ironia? Dói, e ainda assim, minha dor parece bobagem.
Ó oráculo perverso, exigente, mordaz, eu não tenho o que dizer, eu me sinto injusta de doer assim desse jeito. Mas, a debalde minhas vontades, de agora até o final da lua quarternária, eu, Quim, do reduto dos mistérios ocultos e revelados, de Quinta Sagita, me coloco em estado de LÁSTIMA, pra que doa o que doer.

Um comentário:

A boneca conceitual disse...

Às vezes dois de um jeito que eu não sei dizer por quê.É só uma carência desmedida, infindável, sobre a qual não há nada que eu possa fazer, ou saiba fazer, e que me magoa daquele jeitinho que nos faz miúdos, passarinhos, abalados.