terça-feira, 6 de maio de 2008

MILONITO


O passado é um poço bordejado por uma escada em espiral, aprofundando-se ao centro, ao núcleo, onde o sólido tem comportamento de líquido. O passado está ali desde sempre e vai hospedando em si as memórias e os acontecidos, engendrando as genealogias, as curvas do tempo, a teoria dos fractais, revelando ou disfarçando os segredos da humanidade. O passado é uma mola.
Há um lençol freático que mina no poço e que a rigores sazonais vai alternando o seu nível e às vezes engole a escadaria e às vezes escoa por completo.
O poço guarda, isso é fato. E mesmo que você não se lembre, que o mundo não se lembre, que as galáxias sufoquem algumas importâncias, o poço abriga, protege, e se você passar por ali desavisadamente poderá surpreender-se em revelações e epifanias.
O passado admira o futuro e acalenta o presente, e permanece. Permanece vasto, permanece infindo, permanece douto, permanece meu lar. E eu permaneço. E quando liberta pelo presente vou em busca do futuro, mas eu sei que o poço lá está e que sempre dele eu precise sempre dele farei usufruto.
Há exigências e implicações. Estou a cabo delas.