sábado, 10 de julho de 2010

Jardim



Margarida ajeitou-se na poltrona. 3h40 da manhã, dizia o relógio. Lion ainda dormia sem sobressaltos, mas se aproximava a hora do seu terror noturno cotidiano. Já havia uma semana que ela observava o sono dele, fazendo um inventário das reações, da balbúcie, alguma memória fresca se despertasse abruptamente. Fazia anotações no mesmo caderno que Lion já usava. Leu registros antigos e aos poucos foi tornando-se a memória daquele romance de amnésia.
Às 4h em ponto Lion rugiu. O sangue de Margarida se aqueceu e mudou de direção. Ele agia, e no corpo dela o que é líquido reagia. Lion bocejava e Margarida era um lago arejado.
Os olhos dele abriram ainda embotados de sonhos. Um segundo. Dois segundos.
- Helicanto?
- Margarida, Lion, Margarida. Volta a dormir, estou aqui.