segunda-feira, 5 de julho de 2010

Letes




Mal acabara de abrir os olhos e de um salto Lion já estava em pé ao lado da cama. Correu ao criado mudo atrás de papel e caneta, e antes que pudesse se esquecer rascunhou a seguinte frase: quando é que um leão nasce de um ovo? Tentou lembrar de mais alguma coisa, mas o sonho já esvaecia, e a única coisa que ainda restara nele era uma sensação de familiaridade. Mas ainda era pouca informação; resolveu guardar para um momento mais oportuno.
Foi viver o dia, então. No banheiro, enquanto escovava os dentes percebia como sua juba estava cada vez mais bonita. Não que ele soubesse muito bem o porquê, considerando sua vida desregrada e seus hábitos pouco saudáveis. Mesmo assim, a juba reluzia, e passeava do dourado a um leve cobre, displicentemente charmoso.
Tudo isto lhe sugeria que ele precisava de sol. Afeito a indulgências, foi muito serelepe buscar Jacob. Pois quando era ele e o skate sob o sol, podia não lembrar. Pra alguém que perdera a memória e vivia o exercício constrito da lembrança, poder não lembrar era dádiva.
Lion partiu, e era Jacob na terra e Apolo nos céus.