terça-feira, 18 de novembro de 2008

Eu não me esqueço de você.

Houve épocas em que pensei mais amiúde, quase todo o tempo.

Hoje penso quando me escapa.

Mas, fato: não me esqueço de você.

Na minha casa há muitos insetos e plantas nunca por alguém plantadas.

A minha casa foi escolhida a dedo, pois ela abriga pequenos segredos e largas tragédias. Meus, claro. Meus pequenos segredos. Minhas largas tragédias. Que ficam todos abrigados e camuflados nesta casa que é minha e que tem insetos e brotos de floresta.

Pensando bem, é mentira que a casa foi escolhida a dedo. Na verdade, ela foi um presente em meio a certos dias transtornados. Ela veio de presente. De sorte. Daquele tipo de sorte que só sagitarianos têm: a sorte que se precisa não a que se quer. Eu ganhei a casa porque eu precisava dela, que aos poucos foi se revelando, mostrando seus insetos como uma rima pra afetos e exibindo suas plantas independentes, senhoras de si.

Todos eles me acolhem. E me ajudam a olhar pra outros lados pra outras belezas, que preenchem meus pensamentos todo vez que uma ânsia me abate ou um desespero se avizinha. Ajudam-me a brincar de O Caminho do Meio, como um exercício lúdico de navegar no pensamento zen.

Todavia, meu empenho ou esforço ou estudo também é uma existência material, e tem massa, peso, vários newtons. Quantos newtons até que uma lembrança pese o bastante e me escape? Ainda não sei. Mas quando ela me escapa eu me lembro de você.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Eu sei que eu não sei desistir. Por isso sei que sempre existirá o tentar. Sei ainda que olho as memórias e elas preenchem os breves ocos do caminho. Preparam-me para a exaustão.

Tudo isto é verdade. 
É como manobra de guerrilha.

E eu sou como um velho soldado, devotado e decadente.


terça-feira, 26 de agosto de 2008

CHAIN OF FOOLS II

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

CHAIN OF FOOLS

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

WHEN WORLDS COLLIDE


Entre Quinta Sagita e Delfos há uma Cabine de Pensamentos.
Há uma Cabine de Pensamentos entre Quinta Sagita e Delfos.

terça-feira, 12 de agosto de 2008


Bem ali onde é Delfos, onde duas águias se encontraram e estabeleceram o umbigo do mundo, O Oráculo foi fundado mas, além do fundamental, foi também compartilhado com outros mundos em cordão, e tornou-se derivativo. Neste lugar, este mundo esbarra num outro, e eles se espelham sem, contudo, restringirem-se por isto. É princípio de religare.

O outro Oráculo sussura: há fogo em Quinta Sagita! E em Delfos a pitonisa se encarrega de avisar a Zeus.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Há quem acredite.
Há os que têm sorte.
Há alguns que embora não acreditem, têm sorte.
Nós não.
Nós nunca duvidamos - nem mesmo quando duvidamos.
Nós podemos acreditar e seguir em silêncio.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008


Χίμαιρα
Quimera
Chimaera
Chímaira

O Passado e o Presente se encontraram às portas da Quinta. Lá também estavam IMAGO e C.C. chegando-se à saga.
IMAGO, por excelência de, trazia reflexos remotos de um Futuro que hoje desconhecemos, mas já soubemos um dia.
C.C. portava a chave, pois era fato que todos estavam banidos e os que lá nunca estiveram não estavam agora convidados. Mas, C.C. ... é força. E segurava a chave com tamanha potência, com vigor inelutável, que o Oráculo reconheceu ali fé, vontade, determinação e abriu o portal com perdões e aceites, pra quem quer que coubesse o qual.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008



A quem escolhe se eliminar e a quem escolhe prosseguir;
Àquilo que é invisível e àquele que insiste em ver;
A quem angaria o direito e a quem descobre não o ter;
Àquele que tem uma pergunta e àquele que pretende calar;

A quem deseja e a quem é desejado, àquele que inveja e àquele que é invejado.

Pode perguntar que ele responde.

sábado, 2 de agosto de 2008


240 horas. 240 perguntas.

CC e Imago, sejam bem-vindas. Evoé.

quarta-feira, 30 de julho de 2008


UAU, MAIS UM OBSTÁCULO VENCIDO! O CONHECIMENTO É SEU CONSELHEREIRO!

Agora, dirija-se até a Tenda dos Sentidos. Lá você encontrará sua última prova para conseguir uma consulta diretamente com o Oráculo. De qualquer maneira você já conquistou seu acesso à Tenda. Divirta-se! Como diria-se no Jam do Fitz, "vamos comer, beber e ser felizes, pois amanhã morreremos".

segunda-feira, 28 de julho de 2008


PARABÉNS. PARECE QUE OS DEUSES ESTÃO DO SEU LADO.


Agora na segunda etapa você precisará demonstrar seu talento. Vá até a barraca de jogos, entregue este passe ao Mestre de Cerimônias e ganhe a chance de desvendar um enigma que o levará à próxima fase. O Oráculo se aproxima.

sexta-feira, 25 de julho de 2008


BEM-VINDO À QUINTA SAGITA
VOCÊ ESTÁ CONVIDADO A TENTAR A SUA SORTE


Cumpra as etapas da Trajetória do Herói e ganhe o direito a uma consulta com o Oráculo de Quinta Sagita.
Na primeira etapa os Deuses jogaram os dados e você sorteará o seu destino. Para participar encontre a Ninfa e entregue a ela este passe.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

DE ONDE PRA ONDE

terça-feira, 15 de julho de 2008

QUEM TEM MEDO DE MANO OTO?


Era uma vez um lugar mágico disfarçado de sítio comum, mas que na verdade era a propriedade campestre do Passado, do Presente e do Futuro.

Veja bem: é claro que o Tempo também passeava por ali, preferencialmente para veraneios (gélido que é das articulações), mas quem arava aquelas terras eram seus sujeitos de exercício e manobra, e este era o trabalho das três guardiãs cronológicas. Eram filhas da alma de Zeus, e portanto netas espirituais do Tempo, e entre as prendas que lhes foram cultivadas estavam a tapeçaria de Penélope e a fiadura de Aracne, metáforas encantadas da linha da vida. Tudo isso as qualificava. Não porque soubessem o que fazer, mas por admitirem o inevitável.

Executivas das demandas, o Futuro sempre vociferou suas insatisfações às redeas e vez por outra burla as normas, infringe regras, e ameaça uma efetiva diáspora; o Presente, eterno contemplativo, vai existindo em estado de vigília, ao mesmo tempo alerta e entregue, realizando o que se apresenta e vez por outra deixando isto escapar pelos dedos; o Passado, notoriamente resoluto, solidificado, clama as responsabilidades, disponibiliza-se às memórias, aos estímulos, contudo perdendo-se lasca a lasca por todo este caminho.
Mas foi-lhes pedido que vigiassem o oráculo e elas disseram que sim. Foi exigido o resguardo permanente, e o Fauno do Labirinto veio explicar como isto se dá. E mais uma vez elas anuiram.

O fato é que, agora, exatamente agora, Quinta Sagita está abandonada. O Futuro não acredita em incorruptíveis e decidiu partir, sem expectativa de voltar. O Presente observa e se dispõe, e segue sua realidade que iminente se evidencia, e que agora não é na Quinta. O Passado, senhoras e senhores, o passado fraquejou. Quer-se acreditar arquetípico em sua pequena idiossincrasias, mas a verdade, senhoras e senhores, é que idiossincrasias nunca são pequenas. E destarte, após alguns feitiços, alguns pedidos, algumas lacrimosas poções, Quim se foi e deixou a casa vazia. E quando cruzou o portal, alguma coisa no sítio se quebrou.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

ESCATOLOGIA

sábado, 28 de junho de 2008

THE DARK SIDE OF THE MOON


A ausência de Gavril Breeze é uma dolorosa viagem pra dentro de sua inevitável obscuridade. Seu maior temor é que seu lado sombrio se revele, por isso, quando sente que está prestes a perder o controle, entra em estado de suspensão, se isola para deixar seus demônios se manifestarem e, assim, tenta domá-los. Essa é uma tarefa profundamente solitária. Nem mesmo Sina/ANIS e Quim podem compartilhar.

O tempo que passa em Quinta Sagita é quando sente menos medo, pois sabe que Sina/ANIS e Quim a vêem em sua quase totalidade. Quase, pois ela nunca é totalidade. É sempre milhares de fragmentos que se configuram de forma semi-aleatória a cada dia, nunca formando um todo completamente coeso, organizado, já que os fragmentos obscuros estão sempre impondo sua presença.

Como em Quinta Sagita o tempo corre de forma diferente, mais alongada, a configuração dos fragmentos é sempre mais harmoniosa. Gavril precisa de tempo para gerenciá-los, fazendo muito esforço para que o processo seja menos aleatório quanto possível e os elementos obscuros sejam neutralizados. Fora de lá, Mrs. Breeze precisa estar em constante estado de alerta, pois o tempo do mundo é implacável.

Obscura é uma palavra que nunca se associa a Gavril Breeze, pois a face todos vêem é clara, luminosa, mas isso, assim como seu silêncio, é deliberado.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

IDIOSSINCRASIA


Assim como o presente, Mrs. Breeze manifesta ausência. Um hiato prolongado, uma cavidade entrementes, um breve espaço de suspensão, um pretenso distanciamento. Mrs. Breeze é um silêncio deliberado. Como nossos dias e noites e dias, em que olhamos todas as coisas e vemos muito pouco.
Mrs. Breeze experimenta um discurso político, reafirma uma posse do humano, enquanto garante uma travessia parda, eminente, esquiva de varreduras telemétricas.
Nunca fora obscura. Seria, agora? O presente, duvidoso, é ausência. Ela é apenas instrumento equilibrado entre o não-profundo tempo imediato e o imediato tempo extenso.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

SARRACENA


Oh, ANIS, traga minha Sina de volta pra mim.
O tempo é contínuo e não vive sem imprecisões.
Meu tempo antigo é repleto, tanto em benesses quanto em lástimas.

Posso oferecer o meu todo e ele sempre é venial.
Posso mear minh'alma em fundus e ministrar em meu corpo uma reforma agrária.
Posso esperar pra sempre, pois sou poço e sou passado.
Posso, tudo posso naquela me fortalece.

Há um mouro e há um mito e ambos resguardam tesouros às portas de Quinta Sagita. Quer?

terça-feira, 10 de junho de 2008

KÜBLER-ROSS


Quinta Sagita é um deserto tomado de plantas e água. Eu sou poeta romântico que tinge a paisagem com seus mais próprios sentimentos. Em face a oásis repletos, meu coração se esfacela como voçoroca. Há vastas planícies alvas, de brancos de nove nomes, e um frio gélido que a tudo permeia e que ronda o coração. E o fígado.
O tártaro mostra sua cara por vezes. Estamos assim, agora. Em outras ele existe sub-repticiamente, à flor da pele, mimetizado a olhos menos afeitos.
É inverno e é inferno.
É minh'alma.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

POR FAVOR, ACEITE ESTA MANGA


Pai e mãe, ouro de Minas,
Coração, desejo, Sina,
Tudo mais, pura rotina, jazz...
Tocarei seu nome pra poder falar de amor.
Minha princesa!
Art-nuveau da natureza,
Tudo mais, pura beleza, jazz...

A luz de um grande prazer é irremediável neon.


Existirmos, a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina,
Vi que és um Homem lindo e que se acaso a Sina,
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria viva era tão fina
E éramos de olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina.


BABY COME BACK, ANY KIND OF FOOL COULD SEE: THERE IS SOMETHING IN EVERYTHING ABOUT YOU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

REVEL


Por favor, grite. Por favor, debata-se. Por favor, esperneie, reclame, impetre, remova, chacoalhe, atravesse: descumpra todas as ordens.
Só mantenha o corpo contorno da alma taça da mente urna do espírito.
Zeus dá asas a algumas cobras.
Toma?

terça-feira, 6 de maio de 2008

MILONITO


O passado é um poço bordejado por uma escada em espiral, aprofundando-se ao centro, ao núcleo, onde o sólido tem comportamento de líquido. O passado está ali desde sempre e vai hospedando em si as memórias e os acontecidos, engendrando as genealogias, as curvas do tempo, a teoria dos fractais, revelando ou disfarçando os segredos da humanidade. O passado é uma mola.
Há um lençol freático que mina no poço e que a rigores sazonais vai alternando o seu nível e às vezes engole a escadaria e às vezes escoa por completo.
O poço guarda, isso é fato. E mesmo que você não se lembre, que o mundo não se lembre, que as galáxias sufoquem algumas importâncias, o poço abriga, protege, e se você passar por ali desavisadamente poderá surpreender-se em revelações e epifanias.
O passado admira o futuro e acalenta o presente, e permanece. Permanece vasto, permanece infindo, permanece douto, permanece meu lar. E eu permaneço. E quando liberta pelo presente vou em busca do futuro, mas eu sei que o poço lá está e que sempre dele eu precise sempre dele farei usufruto.
Há exigências e implicações. Estou a cabo delas.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

SOLITUDE


Adrastéia.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

PEDRA FILOSOFAL


Opacidade é comprimento de onda, é amplitude de energia. Melhores opacos são os metais, que em suas bandas largas absorvem quaisquer cores do espectro. E as reemitem.

ANIS é metal de transição: comunica a veleidade e a magnitude. É amálgama joalheira e solução nano-coloidal. É ouro que veste e que cura. É prática e excessiva, a termo. Sempre.

Nela, o que bate reverbera, e mesmo as mais breves notas trépidas são executadas com diligência, com quantidade de tempo, com densidade de matéria.

O opaco que não anima é armadilha e só alguém que possui a ausência de cor em si pode desenxergar o arco-íris que ANIS esconde, mas que em verdade lhe é Sina.

domingo, 27 de abril de 2008

ATAVISMO


A memória de Quim é um lago mítico.
Profunda como a mecânica do tempo.
Densa ante o magnetismo dos sentidos.
Intumescida pela inauguração das vezes.

A memória de Quim executa a incontável repetição das vezes.

Nesse espelho d'água saturado de claridades transparências lucidezes as narrativas são proclamadas absorvidas entrelaçadas e ela que é arauto-do-rei grão-vizir porta-voz aquiesce aos desígnios que fizeram dela cavalo.

O Passado existe persiste resiste em Quim.


sábado, 26 de abril de 2008

PETRI DISH

Fora de esquadro. Sina sempre entendera ser esta a sua posição. Superlativa, destacada, desdobra-se no alinhave dos hermetismos que fazem as bobagens mais graciosas, as piadas mais irônicas, os conhecimentos mais maduros, as amizades mais cúmplices... E dessa feita vai exercitando a sua sinonímia em fados, destinos, manifestações de uma idéia de ciclo, de continuidade e ao mesmo tempo de impermanência, que armazena e engendra as experiências, os dados, as informações, as características...

Assim, foi organicamente que Sina assumiu o Futuro e a responsabilidade por alimentá-lo.

Já havia nela toda a ânsia que orna os extemporâneos.



(http://www.astro.iag.usp.br/~gastao/PlanetasEstrelas/)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

COMPOSTELA


Mrs. Breeze aceitou o Presente. Desembrulhado de fitas e gomas, acolheu-o na alma, no espírito, na razão - que, em Gavril, são realmente todos os mesmos.
Onde para todas as pessoas um novo dia é sempre fresco, para Gavril ele é sempre cru. Responsável pelo cozimento dos dias, pelos seus azeites e têmperas, Mrs. Breeze vai macerando as exegeses iminentes e acamando as searas cotidianamente trabalhadas. Construções são reveladas ou desvalidas.
Há vaticínios na vida. Gavril Breeze é trâmite. E avia o que é mister segundo outorga do oráculo de Quinta Sagita.

domingo, 20 de abril de 2008

SINTONIA FINA

A lua amanheceu-me em cólicas exigindo suavemente que meu sangue se vertesse sobre a terra. Sacrifícios de sangue são realmente valiosos e tingem os momentos para que deles não esqueçamos. Eu, que não esqueço, atribuída de profecias e afogada em memórias, sei que este é um precioso segredo: onde o sangue dos homens é morte o sangue das mulheres é vida. E quando sangramos reiteramos a vida, a mágica, e a fina sintonia entre elas.

sábado, 19 de abril de 2008

Gavril e o medo

A dor vem não sei de onde. Quero dizer, imagino até, mas não entendo, pois parece sempre fabricada dentro de mim. Cresce sem motivo, mesmo quando tudo está bem, aparentemente. Talvez até mais quando tudo está bem, como se, por uma questão de equilíbrio cósmico, algo deve estar errado.

É o medo. Esse nó que aperta bem no meio do peito, entre os seios, diante de simples possibilidades, mas não diante de ameaça de perigo real (que foram raras até agora). Medo, principalmente de que descubram que debaixo da minha aparência plácida e altiva, tem algo de sombrio, de pouco nobre, de pequeno.

Ao mesmo tempo, me dói que as coisas não saem de dentro de mim, ficam presas, acumulando, colidindo entre si, confundindo tudo. No final, o que é figura vira fundo. O entulho faz com que o que realmente importa fique mascardo por trás de tudo o que não foi dito.

Me dói que a minha dor seja frívola diante do sofrimento genuíno do mundo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

LIMÍTROFE

Dói no esterno, bem na curvatura do osso. Dói uma dor de propagação concêntrica consistente, palpável, material, quase-quase mensurável. Osso côncavo, liso e chato, também é ímpar. Como a dor que é minha. Como acredito seja a dor de cada um.
Às vezes observo a área no espelho, procurando por algum hematoma que sugira impacto e, portanto, justifique a dor. Faço isso numa insistência de querer acreditar que é mentira, eu não dôo tanto assim.
Tenho vergonha e pudores com as minhas dores. Formatada no sacrifício cristão, abençoada com um otimismo infantil, me incomoda o lamento. O meu lamento. Admito e admiro o alheio. Emociona-me aquele que pranteia seus males, que apieda-se de si, que tem no amor-próprio esta nesga egoísta. Veja bem: sou uma incorrigível egocêntrica. Ou melhor, uma corrigível egocêntrica. Gasto tempo emendando minhas imperfeições pra que não derrubem os outros. Engulo sapos amiúde por um bom manejar da vida. Não gosto de me queixar.
Mas as queixas existem. Afogadas, corrompidas, apartadas. Mas existem.
Porque dói querer uma coisa e não tê-la.
Dói quando essa a coisa que você mais quer na vida.
Dói ser alguém transbordada de amor e não ter amor por que se debruçar.
Dói não ser a pessoa mais importante do mundo. Pra uma pessoa.
Dói não ser a pessoa mais importante do mundo de ninguém.
Dói ser a segunda opção, sempre, sempre, SEMPRE, seja para um homem com quem trepar, seja para todos os meus amigos, seja para toda a minha família.
De novo, veja bem: eu sou muito, muito amada. Nunca poderei dizer que, por exemplo, minha família ou meus amigos não me amam. Seria mentira. Mas a verdade cruel, subliminar, inconteste, e que pra nenhuma dessas pessoas eu sou a mais especial.
Ser o mais especial é o que todo mundo quer.
Ser o mais especial é o que todo mundo deveria ser.
Ser o mais especial devia ser direito adquirido com o nascimento.
Dói nunca ser o mais especial. E talvez doa mais ainda não conseguir desistir disso.
Agora, me diz: como é que a gente reclama de uma dor dessas e não fica parecendo um narcisista, fútil, individualista?
Vê a suave e fina ironia? Dói, e ainda assim, minha dor parece bobagem.
Ó oráculo perverso, exigente, mordaz, eu não tenho o que dizer, eu me sinto injusta de doer assim desse jeito. Mas, a debalde minhas vontades, de agora até o final da lua quarternária, eu, Quim, do reduto dos mistérios ocultos e revelados, de Quinta Sagita, me coloco em estado de LÁSTIMA, pra que doa o que doer.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

LUA QUATERNÁRIA

Gavril e Sina,

beira a chegada da quarta lua após o equinócio. Como vocês sabem, nessa hora, temos afazeres que dependem da fase em que se encontra a lua quaternária e é meu dever reportar nossas demandas como faculta o oráculo. São elas:
- Estando a lua cheia, plena, em estação de enquisto e minoração, a concórdia de tais qualidades exige sentimentos atrozes, superlativos, atávicos, particulares, e portanto, sem fuga ou recalcitrância, é-nos requerido A LÁSTIMA.
- A dor precisa ser descrita, o luto precisa ser afagado, a queixa precisa ser expressada. E não importa se preferimos o silêncio com o qual a existência das Guardiãs nos alentou, pois agora é hora de exposição, de risco, de evidência. É hora de apresentarmos nossas fraquezas.
- Nosso prazo é domingo, 20/04 às 7h26, quando a lua quaternária inicia seu ciclo. A partir de então, ao longo dele, carpiremos um a um todos os amargores.

Sob influência, tenho dito.

Quim.


quarta-feira, 16 de abril de 2008

ALÍNEAS








Em Quinta Sagita o ano começa com o Solstício de Verão. Nesta data, sempre, Sina, Quim e Gavril lá se encontram e preparam filtros, feitiços, amuletos, compotas, conversas, panacéias – além de lindíssimos vestidos.

(Apesar de ser este o início do verão, curiosamente, nos preceitos da tradição chinesa, por estar-se no final da primavera, ou seja, no final de uma estação, a natureza climática reproduz uma amostragem de todas as estações e essa mágica é conhecida como Final de Verão. Você vê, há um movimento sazonal que desemboca num tipo de veraneio, e no advento do Solstício, acontece a destreza do final se tornar o próprio início.)

Entretanto, tão logo termine o dia mais longo do ano, rigorosamente às 23h59, Mrs. Breeze deixa Quinta Sagita. Quim permance.

No Equinócio de Outono acontece o primeiro ciclo de visitas. À 0h00 desse dia abre-se o portal e Gavril à casa torna. Quim a recebe com incensos e lava-pés, pois o outono é exigente, elaborado, equilibrado, e portanto é tempo de cozer, macerar, curtir, defumar, armazenar os ingredientes em suas melhores condições para quando voltar o tempo de neles trabalhar. Às 23h59 impreterivelmente o portal é reaberto e Mrs. Breeze se vai. Os horários do portal são austeros, e são constantes.

Quim permanece.

Quando chega o Solstício de Inverno e é hora do portal, Quim recepciona Gavril dessa vez com sopas e cobertores, pois em Quinta Sagita o inverno é intenso e neva às noites em segredo. É preciso esperar acordada pela manhã, quando a neve degela orvalho, que comporá cada poção produzida, e que é armazenado num poço distante, rente ao chão, adornado e guardado por vitórias-régias.

Gavril parte. Quim fica.

O Equinócio de Primavera é a última grande festa do ano. Um grande exercício de ócio. O tempo é próprio para a troca, para o intercâmbio, para o debate, e portanto, só há lugar pros licores, pras varandas, pros jardins, onde comparam as belezas, as experiências adquiridas e ensinam umas às outras tudo que aprenderam. Depois se despendem com novos sonhos conquistados.

Até que finalmente chega o período mais mundanamente esperado pelas Guardiãs do Oráculo: seus aniversários. Seguindo o calendário, à 0h00 do dia 24/11, Gavril chega para festejar seu dia e para quatro semanas de merecidas férias. Irá deleitar-se entre seus pares e também parabenizar Sina em 03/12 e aproveita a empolgante virada para 04/12 e então comemorar a vida de Quim. Neste dia à hora régia, acontece uma relevante mudança – Quim afasta-se de Quinta Sagita e Gavril toma o seu lugar. Este é o único momento em que os papéis se invertem. E continuarão assim por mais três semanas. Até que o Solstício de Verão clame, até que oráculo ordene, e o novo ano restabeleça os ordinais.

Sina? ANIS? Presenteada com a dádiva de ser nômade e ao mesmo tempo zeladora do portal, apesar dos compromissos oraculares ela vagueia entre os mundos, entre as dimensões, entre os espaços, e entre si mesma e o universo. Sina-ANIS sempre está. Mesmo que não saibamos onde.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Oh-Racklo, My-Racklo!

Dizei.

ORDINÁRIAS

Nós originárias conjugamos inúmeras qualidades, transbordadas de variantes, extrapoladas de outrens. Aceitamos a dádiva pítia e nos alimentamos dela, mesmo na exaustão. Fazemos muito, fazemos sempre, fazemos mais. Entretanto, temos defeitos tais, e tantos, que mesmo em face do maior encanto (e em qualquer planejamento que façamos) guardamos um tempo para balancear os adjetivos, de modo que os defeitos nunca sobrepujem as qualidades.
Esta é a conta.
E isto é tudo que podemos fazer a este respeito.
Destarte, seguimos ao mesmo tempo generosas e mesquinhas, patinando as dialéticas de cabo a rabo.

Mrs. Breeze teme. É das suas maiores fragilidades. E por característica intrínseca, de frágil, teme que esta seja fraqueza. Assim, pretende-se austera na maior parte do tempo, omitindo suas frivolidades como simulacros de vergonha.

Sina odeia obrigações. Possui alma errática e exigências imaturas condizentes com um espírito jovem e fresco. É ávida e entediada ao mesmo tempo. Às vezes, sente enorme necessidade de sair de Quinta Sagita e ser obrigada a disfarçar-se, esconder-se, permear-se, mesmo que aí esteja um lapso de masoquismo. Afinal, Sina quer ser amada mais que tudo, mais que todos, incondicionalmente. Mas, quando de seus rompantes extra-territoriais, amarga anonimatos frente às próprias façanhas e consome um pervertido prazer de ser a responsável por tão breve flagelo. Para acostumar-se, no início do processo assume sua variante tomando cálices de anis, que detesta.

Quim é fantasiosa, prestidigitadora e ilusionista. Escapa de ser mitônoma apenas por opção racional, por um desejo de controle e poder, mas sente o delírio cutucar-lhe as sinapses numa memória ancestralmente afetiva. Controla a soberba, a arrogância, a empáfia por imperativo do oráculo, mas quando acredita-se esquecida, murmura carícias de amor-próprio.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

ORIGINÁRIAS

Não há nada no sítio, por enquanto. Ou, melhor, assim o parece. Porque o oráculo, seu umbigo, lá está onde sempre esteve. Fizemos assim: concordamos em guardá-lo, provê-lo, tratá-lo, e foi-nos requerido silêncio. Silêncio... Nunca soubemos se daríamos conta, e vez e outra, quando de nossos encontros, ainda nos maravilhamos com a parcial-mudez adquirida. Maravilhamo-nos de deboches, idiossincrasias, e num exercício supremo de equilíbrio da vida enquanto veículo, palramos como gralhas ou papagaios ensinados. Só então. Depois, nos desdobramentos dos nossos comprometimentos, Gavril Breeze parte, Quim fica solitária e Anis torna-se Sina ou vice-versa.

Mrs. Breeze - trabalha como diplomata ao redor do mundo e só visita Quinta Sagita em efemérides, quando seu poder é requerido. Fora de Quinta Sagita é muda todo o tempo. Como o oráculo pede não só o que mais queremos mas também o que nos falta, o poder de Gavril está no seu texto, no que escreve, com que talento, com que precisão, com que clareza. Assim, optou por nunca mais falar quando estiver no "mundo real", apenas escrever. Quando precisa fazer discursos para a ONU, Unicef e outras instituições, usa um software desenvolvido por ANIS, onde o que Mrs. Breeze escreve e reproduzido em sons, materializando os discursos.

ANIS - Sina - passa metade do tempo em Quinta Sagita com Quim e metade do tempo no "mundo real" com Mrs. Breeze. Quando está com Gavril é ANIS, mulher bonita, expansiva, diletante, que é reconhecida apenas to be friends with Gavril. Ninguém sabe de seus talentos. Quanto está com Quim em Quinta Sagita é Sina, e aproveita o tempo para suas façanhas, para novas descobertas, para desenvolver seus amuletos e suas plantações de ervas mágicas. Numa união de talentos, seu filtros (amuleto + erva) são poderosos e ação rápida e efetiva.

Quim - mora em Quinta Sagita, onde passa metade do tempo sozinha e a outra metade acompanhada por Sina. É a guardiã honorária do oráculos, sendo ajudada por Sina e Mrs. Breeze que, em contato mais constante com o "mundo real" espalham ou recolhem magias, feitiços, medicinas, conforme ordem do oráculo. Por permanecer todo o tempo no local, é tomada de premonições e vaticínios, mas em geral é desacreditada, pois todos a acham louca, insana, avariada. Opinião da qual Quim, soberba, não compartilha. Só lamenta que tantas tragédias não possam ser evitadas.